Quem são os quakers?
Os quakers são um grupo religioso surgido na Inglaterra, em 1647, como uma dissidência da igreja Anglicana. Inicialmente, a denominação escolhida pelo fundador do movimento, o sapateiro George Fox, foi Sociedade dos Amigos, inspirada no texto do Evangelho de João 15,14: “Vós sois meus amigos, se fazeis o que vos mando”. Na prática, porém os seguidores ficaram conhecidos como quakers: o termo é derivado do verbo to quake – estremecer, em inglês, em alusão ao que ocorria com os adeptos quando tocados pelo Espírito Santo em suas reuniões.
Um dos pilares da fé dos quakers é a crença de que Cristo está presente sempre que os “amigos” se reúnem em silêncio. Como uma das consequências disso, dispensam a figura de líders ou mediadores. “Os quakers notabilizaram-se por crer na manifestação de Deus por meio de uma voz interior. Assim, todos os crentes são considerados ministros em potencial”, afirma o pesquisador Douglas Nassif Cardoso, da Universidade Metodista de São Paulo. “Representavam uma posição completamente diferenciada, contrários tanto ao Catolicismo quanto ao Protestanismo. Era uma terceira linhaque valorizava o contato direto com Deus.”
Rejeitando qualquer organização clerical, viviam em recolhimento e pregavam a prática do pacifismo, da solidariedade e da filantropia. Com o objetivo de garantir sua pureza moral, também defendiam atitudes, digamos, nada moderadas: recusavam-se a pagar dízimos à igreja oficial, a prestar juramento diante dos magistrados nas cortes ou a homenagear autoridades, incluindo o rei. Negavam-se ainda a prestar o serviço militar e a tomar parte nas guerras.
Devido a esse posicionamento radical, os quakers sofreram perseguições na Inglaterra e, no século 17, migraram para a América do Norte, principalmente para os Estados Unidos.
Na então colônia inglesa, mantiveram sua postura extremada, que se refletia, também no mode de se vestir. Os fiéis, por exemplo, distinguiam-se por usar longos chapéus pretos em locais fechados ou na presença de autoridades, como um meio de mostrar que não reverenciavam ningém além de Deus. Ao longo dos anos, poém, o uso da peça se perdeu e a figura tradicional do religioso quaker ficou apenas na história, ou nas embalagens dos alimentos da empresa americana Quaker, que se inspirou na imagem, apesar de não ter relação com a crença. “Valorizamos a simplicidade e, por isso, usamos roupas baratas, práticas e discretas. Mas participamos da cultura do século, e não há nada que chame a atenção na vestimenta de um quakler moderno em relação às outras pessoas”, diz o americano Chel Avery, diretor interino do Centro de informações Quaker, na Filadélfia.
Atualmente, os quakers concentram-se nos Estados Unidos, no Canadá e na Inglaterra, mas há comunidades em todo o mundo. No Brasil, um grupo se formou na década de 90, mas não vingou. “Reunímos em São Paulo, mas as pessoas se mudaram e o grupo acabou”, conta a americana Linnis Cook, que há 16 anos vive no Brasile é quaker desde a década de 70. “Mas, no exterior, o movimento continua forte, com tradição em militância social”, afirma ela.
Fevereiro de 2004 – Por Karina Fusco