Mulheres Muralhas
De: Anita Haesbaert
Olho as muralhas e vejo as mulheres
Itas aqui do Sul.
Talita, Zenita, Eulita, Lolita.
Gomos chupados da laranja
Remendo liso no xadrez das bombachas.
Dedos de juntas grossas
do polvilho tirado no inverno.
Lãs cardadas, pontos dados
no acolchoado macio.
(Como as roupas, secam presas ao varal!)
Talita lavou a tabatinga,
do rosto do marido bêbado
caído da pinguela no lajeado.
Lolita olhou para o céu e desmaiou,
quando o jato fretado, socorria o filho
que pedia: ” Não me deixem morrer!”,
mas era tarde…
Zenita acordou no meio da noite,
tirou a vaca do jardim, fechou a porteira
e deitou para dormir
ajeitando mãos pra reza
e o corpo todo para morrer…
Eulita viajou para o Rio
(passagem que o filho mandou).
O marido, enciumado, a enciumou.
Dobrada pela culpa, Eulita (em grego: ‘a boa pedra’)
mirou-se em imagens de Atenas,
Pequenas.
Chaveou mala vazia,
caiu no limo pegajoso da rotina.
Eta, Itas de sul a norte.
Malabaristas das pinguelas e dos varais.
Jatos fretados, há muito cancelaram seus vôos.
Sonham com as antenas parabólicas,
insistem em trocar mudas de flor, pontos de crochê, receitas de broa…
Abrem e fecham seus regaços:sâo cancelas.
Presas-soltas, amarram e seguram as pontas
dos muros e grandes aramados daqui.
Louvadas sejam, FINitas.